“QUEM NÃO VIU, VAI VER
AS FÁBULAS DO
BEIJA-FLOR”
SINOPSE
Uma lágrima
sentida caiu dos olhos da Vovó,
lembrando imagens de crianças e do velho tempo que passou. Olhem o céu que
maravilha! Retalhos de nuvens, bordados de estrelas... Iluminada pelo sol da
meia-noite, a natureza vem mostrar sua beleza.
Pela porta da
imaginação, galopando em cavalos alados, chegamos ao País das Maravilhas. Recebidos por soldadinhos de chumbo, entramos
na floresta onde os animais falam e as plantas cantam; tudo neste mundo é
encantado!
Com o despontar
da primavera, tirem do passado a nobreza, e do futuro, a magia da surpresa!
Criem a mais linda fantasia, delirem no universo fantástico deste canto de
emoção!
Não chore não Vovó, não chore não! Veja quanta
alegria dentro da recordação!
Hoje, novamente sou livre, sou criança
Beija-Flor; nessa bela fantasia, brindando à vitória do amor!
Pousarei nos
luxuriantes Jardins das Delícias onde
repousa o gigante em berço esplêndido. Celebrarei os donos da terra, sua
cultura, suas lendas e seus rituais mágicos. Lavarei a alma e matarei a sede
nas águas do rio mar, acompanhado de Caruanas e Amazonas à luz do luar.
Ensinarei a dádiva da preservação das nossas riquezas, que estão abaixo e acima
do solo; e revisitarei diversos cantos e recantos desse torrão miscigenado.
Ouvirei ainda poemas encantados de amor; renascendo nas águas de um paraíso
hospitaleiro de onde se avista o sol primeiro. Me tornarei candango e calango
na capital da esperança e, traçando o destino ainda criança, me transfigurarei
em brilho de fogo sob o sol do novo
dia.
Iluminado feito
um festival de prata, subirei ao Orum
sagrado dos Nagôs, e descortinarei a reluzente constelação das estrelas negras
para resgatar as nossas diversas Áfricas: a de lá e as de cá. Guiarei um cortejo
de reis, rainhas e guerreiros negros, aqueles que romperam grilhões e
carregaram nos ombros, marcados pelas chibatas, a opulência do nosso país, mas
que sempre ficaram esquecidos nas savanas da memória oficial. Então, lembrarei
que o mundo deve o perdão aos filhos de ébano, àqueles que sangrando pela
História, foram tratados como mercadoria pela cruel ganância da escravidão.
Recordarei a
grandiosidade da nossa cultura, múltipla, diversificada. Sonharei com rei e
acertarei no leão. Ouvirei novamente aquela inesquecível voz de cristal
encantando corações; me emocionarei com a sensibilidade da Dama das Bromélias; reviverei um tempo que passou, uma lembrança
que ficou, para encontrar, lá no Cachoeiro, o Rei ainda menino e; finalmente,
quando o amor invadir as almas e a magia trouxer inspiração, triunfará uma canção para embalar
os corações.
Porém,
entristecido, constatarei que não somos o Brasil das maravilhas. Verei que os
trabalhadores mais humildes continuam carregando o peso descomunal dos impostos,
enquanto os “donos do poder” se
esbaldam em farras bancadas com dinheiro público. Serei mais uma vez o
porta-voz dos excluídos contra as mazelas que corroem as nossas riquezas, por
que faz parte da minha missão.
Retirarei das
imensas lixeiras desse país, restos de luxo, convocando o povo para um grande Bal Masqué. Fazendo, da própria
angústia, um grito de desabafo: ratos e urubus, larguem nossas fantasias! Chega
de ganhar tão pouco, chega de sufoco e de covardia! Parem com essa ganância,
pois a tolerância pode se acabar um dia! Oh! Pátria amada, por onde andarás?
Seus filhos já não aguentam mais!
É bem verdade, Vovó, que de lá pra cá, tudo se
transformou. Mas a vitória da folia ficou no encanto do meu povo, que brinca
sambando quando samba a Beija-Flor!
JUSTIFICATIVA
A proposta do Carnaval 2019 da Beija-Flor de Nilópolis é uma celebração
aos seus 70 anos de história, resgatando a memória do Pavilhão através de uma
releitura contemporânea e fabulosa dos enredos mais marcantes da Agremiação.
Quem Não Viu, Vai Ver, e quem viu, vai
novamente poder se emocionar com As
Fábulas do Beija-Flor, uma coletânea das aventuras conduzidas pelo voo do Beija-Flor,
animal símbolo da Escola, e o narrador-personagem dos enredos.
O embasamento e a argumentação deste projeto carnavalesco perpassam pela
definição do conceito de fábula, pela relevância histórica e pedagógica do
escravo grego Esopo, e pela missão do Carnaval enquanto espetáculo e
manifestação cultural.
As fábulas são narrativas de fatos, imaginários ou não; fabulações cujas
personagens são animais (e ainda plantas e seres inanimados) que agem como
seres humanos, apresentam características humanas, tais como a fala e os
costumes, e têm como objetivo promover reflexão e propiciar ensinamentos
através da moral da história.
A inspiração na obra milenar de Esopo baseia-se em uma identificação
imediata, pois do mesmo modo que os preceitos morais deixados como legado por
este visionário permanecem atuais e atemporais, a Beija-Flor de Nilópolis
sempre revelou-se uma Escola pioneira, à frente de seu tempo.
Da mesma forma que as narrativas de Esopo se tornaram famosas ao longo
da História da humanidade, os carnavais da Beija-Flor inspiraram e incitaram
importantes reflexões na nossa sociedade, ambos embebidos de arte em um
universo de magia e fantasia; e tanto as fábulas quanto o Carnaval são
elementos populares. Sendo que o Carnaval, enquanto a mais genuína expressão da
nossa identidade, também apresenta, através dos desfiles das Escolas de Samba,
temáticas fictícias que têm por finalidade disseminar informação, conhecimento,
cultura e entretenimento, cantadas em verso e prosa – tal qual as fábulas –
através do samba-enredo.
INTRODUÇÃO
No dia de Natal,
à luz do Criador Deus Menino, sete décadas atrás, nasceu faceiro Beija-Flor,
criado com muito amor; dádiva de quem já estreou abençoado na manjedoura
nilopolitana, esmeralda reluzente riscando o céu no infinito.
Conduzindo essa
viagem fascinante, voando de flor em flor nos Jardins da Folia, disseminou o
pólen da informação e o grão do entretenimento, semeando Cultura Popular;
bailando e rodopiando pelos ares, até na floração do Carnaval nova flor ver
desabrochar.
Fez da História
milenar alimento, cruzou céus e mares, igarapés e mananciais. Promoveu o
encontro entre tambores e tribos, lendas e mitos; e viu despontar costumes,
peculiaridades e tradições. Escreveu páginas de ouro da poesia brasileira ao
revisitar nossas raízes, e nos fez mais felizes ao cantar a exuberante beleza
das riquezas áureas do Brasil de Norte à Sul, em tons de branco e azul.
Viajou pelo
mundo místico dos Caruanas nas águas do Patu-Anu, pelo paraíso hospitaleiro de
onde se avista o sol primeiro, da Terra Santa – verde paraíso do povo da
floresta e seu canto de fé pela missão de preservar, embebido de força,
mistério e magia – para as terras dos Pampas, onde sete povos, na fé e na dor,
ergueram sete missões de amor, em meio à liberdade dos campos e aldeias.
Viu brilhar o
seu valor a iluminar o estado de amor de uma Comunidade que impõe respeito, e
cheia de orgulho, bate no peito. Retirou o chapéu de bamba para anunciar
Brasília, a capital da esperança, inspirada na arte e nos traços do mestre da
arquitetura; e declamou ainda, o poema encantado da terra do bumba-meu-boi, da
encantaria e das palmeiras onde canta o sabiá.
Resgatou as
nossas origens e a nossa herança africana, legado dos nossos ancestrais. Testemunhou
a criação do mundo na tradição Nagô e às Pretas-Velhas... quanto amor! Cantando
em louvor à grande constelação das estrelas negras e todo o seu esplendor.
Ao abordar a
importância da negritude, rompeu fronteiras e conheceu o berço de diferentes
civilizações. Do Egito à liberdade, esclareceu que negros escravos viveram em
grande aflição, foram o braço forte da nação; saga de quem vai seguindo o seu
destino...
Enfim
reencontrou as Áfricas de lutas e de glórias – do baobá da vida de Ilê Ifé à
irmandade do conto do griô, negro na
raça, no sangue e na cor.
Narrador-personagem
a desvendar mistérios trajados de fantasias, consagrou-se ave Soberana, desfilando a exaltar a Corte
de reis e rainhas no cortejo dos plebeus, composto por mestiços, índios, negros
e europeus.
Homenagens que
passeiam pela exaltação à José de Alencar, ao bom Natal – saudado pela
Majestade, o Samba; pela coroação da Dama
das Bromélias Margareth Mee, que fez a festa na Sapucaí, e pelo canto de
cristal da diva internacional Bidu Sayão, que sacudiu a Passarela.
Comoveu ao botar
pra fora a felicidade de reverenciar a simplicidade, momentos lindos que
fizeram do Samba, oração. Sonhou o sonho do sonhador ao viajar nos feitos do
astro iluminado da televisão, e na genialidade do Marquês que batizou a
Avenida, palco das mais esplêndidas atrações.
Audacioso
pássaro pequenino se fez gigante, ao propor reflexão social, ao soltar o grito
de liberdade, o clamor por igualdade. A utopia de um Brasil livre da ganância
nociva que há por baixo dos panos, ninho de famintas serpentes, onde ratos e
urubus, trepados no cangote do povo, fingem não entender que todo mundo nasceu
nu, e que saco vazio não pára em pé. Santuário de ambição que vitimiza brava
gente sofrida, cansada de ganhar tão pouco, que vive no sufoco e precisa
desabafar: seus filhos já não aguentam mais! Monstro é quem não sabe amar!
Foi o nosso DNA precursor e revolucionário, de
quem tem sede de vitória, que permitiu que chegássemos até aqui, conquistando
14 estrelas, revelando o sorriso alegre do sambista, e sendo aclamada o
festival de prata em plena pista.
A possibilidade
de fazer uma releitura de desfiles memoráveis, alguns considerados mesmo
antológicos, é um afago para a nossa gente humilde, que defende o nosso manto
sagrado, na alegria ou na dor. Enamorada do nosso país, Nilópolis é nossa raiz!
Hoje, a nossa
declaração de respeito, reverência e devoção ao Pavilhão virou fabuloso enredo
sobre nossa septuagenária Agremiação; hino a ser defendido e entoado pelo canto
inebriante de uma Comunidade fascinante. Quem
Não Viu, Vai Ver, as Fábulas do Beija-Flor!
Que o ímpeto de
voar seja o nosso segredo para acreditar, que o palpite, é certo!
Bravo Bravíssimo, capricho foi pouco pra exaltar a beleza de nossa história e de nossa gente.Olha a BEIJA FLOR AÌ GENTE!!! BELISSIMA!!!!
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