GRES. UNIDOS DO PORTO DA
PEDRA
Carnaval 2019
Presidente: Fábio Montibelo
Carnavalesco: Jaime Cezário
Enredo:
Antônio Pitanga, um
negro em movimento!
Carnaval 2019
Apresentação da Sinopse
A maior festa da celebração popular é o nosso
carnaval que ano após ano traz para as ruas e avenidas a alegria do nosso povo,
que mesmo em momentos adversos busca energia para exorcizar as mazelas e
celebrar a vida! Nesse cenário as Escolas de Samba sempre desempenharam um
papel importante, utilizando seus desfiles para propagar ideias, resgatar
histórias, levantar polêmicas e promover a cultura nacional.
A
Porto da Pedra vem desde 2016, apresentando enredos que resgatam momentos e
personagens da cultura nacional, histórias de fácil identificação e comunicação
com o público. Nosso desejo sempre é de que pelo tempo que durar o desfile do
Tigre de São Gonçalo, todos possam viver uma doce ilusão, se extasiando na
emoção para guardá-las na memória, foi assim que, revivemos a alegria do
Palhaço Carequinha, cantamos as hilárias Marchinhas de Carnaval e saudamos as
eternas Rainhas do Rádio.
O
tempo passou e temos a certeza de que o recado de felicidade foi bem dado.
Nesses três anos, vimos a receptividade estampada nos olhos marejados e nos
sorrisos de um público feliz. A melhor resposta de que o caminho está correto.
Por isso, precisamos continuar buscando em nossa cultura fatos ou personagens
que tenham representatividade popular para nossos enredos, afinal, o carnaval é
do povo e para o povo!
Mergulhamos
na busca dessa nova inspiração para manter acesa a chama da emoção. Foi
revirando os livros da memória que encontramos um brasileiro de origem humilde,
que nasceu na efervescente cidade de Salvador, na Bahia, no final da década de
30 e soube transformar a sua história.
Ele buscou caminhos teoricamente mais difíceis, com grandes desafios e
barreiras. Menino pobre de pele negra que encontrou nas artes cênicas sua
vocação. Naquela época, atores eram marginalizados e o teatro e o cinema ainda
não davam espaço para atores negros... Nesse cenário surge nosso homenageado:
Antônio Luiz Sampaio, popularmente conhecido como "Antônio Pitanga".
Antônio
Pitanga é um ator intuitivo, vigoroso, desbravador social e cultural. Respeitador dos Movimentos Negros, mas
que prefere se intitular como "um negro em movimento", para ter a
capacidade de pensar, avançar e recuar.Mandingueiro de essência fascina por sua
vida e pela construção, através de seus personagens, do protagonismo do negro
no cinema brasileiro. De operário à Cristo, Antônio, nosso cavaleiro de Ogum,
abriu caminhos para o Cinema Novo. Mostrou ao longo de
sua vida que o impossível não existe, basta querer e lutar de forma digna por
seus objetivos. Uma vida construída pelos bons valores familiares que o
alicerçou a transformar a sua realidade.
Homenagear
esse singular artista, que marcou presença em terrenos tão díspares como o
cinema novo, teatro de vanguarda paulista, as novelas de televisão, a
militância política e as relações afro-brasileiras, é motivo de grande orgulho
para a família Porto da Pedra. Vamos
saudar este grande homem que está completando 80 anos, sendo sessenta deles
dedicados a arte, um exemplo inspirador para um país que precisa de brasileiros
que não se curvem as dificuldades e ao preconceito. Ele é a encarnação viva de
um sonho feliz de país: miscigenado, livre e justo.
Antônio Pitanga, um negro em movimento!
Jaime Cezário
Carnavalesco
Ancestralidade
Africana.
Nosso
homenageado foi em busca de suas raízes ancestrais na Mãe África, e vai encontrá-la
na região hoje conhecida como Benim, onde se localizava o antigo Reino de
Daomé.
O
primeiro Movimento do nosso enredo começa na cidade de Salvador, no final da
década de 30, onde nasceu nosso homenageado Antônio Sampaio, em pleno
Pelourinho. De origem humilde, sua mãe era filha de ex-escravos, mas com larga
visão de futuro e fez questão de fazer despertar em todos os filhos a
importância da educação e de se ter consciência político-social e assim, foi
criado Antônio. O batismo foi na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos,
um marco da força de trabalhos dos negros em Salvador, que a construíram para
driblar o preconceito e poderem frequentar. Esse menino pobre e de pele negra
era um peralta que adorava uma briga, encontrou no jogo de capoeira uma forma
de extravasar tanta energia.Sua mãe, sempre observadora e preocupada,quis logo
dar uma boa direção ao pequeno Antônio. Assim o menino foi matriculado no
Colégio Interno São Joaquim para estudar e aprender uma profissão. Aos dezessete
anos, já formado, presta concurso para empresa inglesa Western de Correios passando
a exercer a função de carteiro. Em paralelo deu continuidade aos estudos no
Colégio Ipiranga para fazer o ginásio.Foi nesse período que seu lado “contador
de histórias” e namorador afloraram ainda mais, seduzindo a todos. Esse perfilsedutor
o fez aproximar do Terreiro do Gantois, atraído pelas belezas das filhas de
santo e das festas com comida e bebida farta.Acabou desenvolvendo uma bela
amizade com Mãe Menininha do Gantois,que se tornou uma amiga e
conselheira. Nesse período,foi morar ao
lado de uma escola de teatro chamado Clube de Fantoches Euterpe, e que vai
fazer despertar todo o encanto pelas artes cênicas. O Clube era fechado para
negros, mas Antônio adorava ficar vendo e ouvindo os ensaios do lado de fora, e
com o tempo, fez amizades com os atores e que passaram a estimulá-lo a
enveredar pela carreira de ator, convidando-o aparticipar de algumas encenações
teatrais na periferia de Salvador.Todo esse convívio foi de suma importância
paraincentivar a fazer seu primeiro teste visandoa participação em um filme e
sua matricula na Escola de Teatro da Bahia...Fazendo a roda girar para o seu
segundo movimento... O Cinema!
·
SEGUNDO
MOVIMENTO: O Cinema.
O
segundo movimento se inicia comAntônio Sampaio fazendo os testes e sendo
aprovado para atuar no filme “Bahia de Todos os Santos”.Este filme fez parte do
"fenômeno baiano" que marcou os primeiros cinco anos da década de
1960 do cinema brasileiro e foi considerado um precursor do cinema novo.Ele
interpretou o personagem “Pitanga”, nomeeste que passou adotara partir de
então: Antônio Pitanga.Nas gravações deste filme ele conheceu Glauber Rocha que
ficou impressionado com o vigor de sua interpretação, surgindo a partir de
então,uma parceria que marcou o “Cinema Novo”.Antônio Pitanga, um ator negro fez
algo inimaginável até aquele momento, o protagonismo em grandes e premiados
filmes produzidos no Brasil. Desde a primeira produção do diretor Glauber Rocha
- “Barravento” - Pitanga em toda sua carreira participou de mais de 70 filmes
dos maiores diretores do nosso país. Os filmes possuíam uma mensagem
político-social muito clara e mostrava a realidade nua e crua do nosso povo,
dentre tantos, temos: “O Pagador de Promessa” ganhador da Palma de Ouro no
Festival de Cannes, “Ganga Zumba”, “Quilombo”, “A Grande Feira”, “Lampião, Rei
do Cangaço”, “Idade da Terra”, “Quando Carnaval chegar” e muitos outros.
Reconhecido internacionalmente por suas interpretações, passou a ser convidado
para representar o Brasil em diversos Festivais pelo mundo, se tornando uma
espécie de “Embaixador do Novo Cinema Nacional”.
Pitanga
com seu jeito vigoroso e contestador quebrou barreiras e transformou um
universo até então, completamente fechado a essa possibilidade, descortinando
para as Artes um novo momento: o reconhecimento do talento do ator negro. Nosso
cavaleiro de Ogum, abriu caminhos para o negro no Cinema Nacional, mostrando
que o impossível não existe, basta querer e lutar por seus objetivos e
sonhos...
·
TERCEIRO
MOVIMENTO: O Teatro e a Televisão.
Quando
das gravações do seu primeiro filme “Bahia de todos os Santos” ouviu o seguinte
conselho do seu futuro amigo Glauber Rocha: “Quer ser ator? Tem que fazer
teatro!”. Esta recomendação e o apoio de Glauber, o levou a se matricular na
Escola de Teatro da Bahia e expandir todo seu talento. Nessa fase baiana de sua
carreira,participou de algumas peças que mexeram com as cabeças de uma classe
artística emergente na efervescente Salvador, pois eram peças questionadoras
que discutiam sobreo preconceito e problemas sociais, com destaque para “A
Morte de Basie Smith” e “Chapetuba Futebol Clube”.
O
seu talento rompeu as fronteiras regionais.Foi convidado a participar da peça o
“O Poder Negro”no Teatro Oficina em São Paulo. A peça criticava o racismo e a
violência das relações entre brancos e negros. Pitanga aceitou o desafio,
participando desse momento que ficou conhecido como “Teatro de Vanguarda
Paulista”. No meio de toda essa agitação cultural entre peças e filmes, nosso
homenageado viveu um novo e especial momento em sua vida, a “Terra da Garoa”
acertou em cheio o coração desse inveterado namorador, que abandonou os flertes
e viveu uma linda história de amor, se casando com a modelo Vera Manhães.
No
Rio de Janeiro, participou da peça “Se correr o bicho pega e se ficar o bicho
come” no Teatro Opinião,esta foi uma das peças que acabou se tornando um marco
de resistência cultural ao Regime Militar.Outra importante participação foi no
musical “Hair”,que narra a história de um grupo de jovens hippies que
protestam contra a Guerra do Vietnã, defendem a paz e o amor livre. Um musical
que se tornou uma bandeira dos pacifistas.Pitanga se integroucom
facilidade a agitação cultural e política da classe artística carioca.
O
Cinema em conjunto com o Teatro levou-o a uma nova vertente para a dramaturgia
que despontava e que já começava a invadir todos os lares brasileiros na década
de 60: a Televisão. Esse novo modismo chegou para ficar e inaugurou a fase das
novelas que se tornou uma coqueluche para este país.Pitanga fez sua primeira participação
pela TV Excelsior em São Paulo interpretando José do Patrocínio em “Sangue do
meu Sangue”, a partir daí não mais parou. No Rio de Janeiro, ainda na década de
60, passou pela TV Rio e em 65 foi convidado para participar da fundação da TV
Globo, onde fez inúmeras participações com personagens de grande sucesso. Uma
carreira pautada em grandes atuações e sempre se movimentando ao longo de quase
seis décadas, sempre estando e atuando onde seu coração de ator o levava para
novos desafios.
·
QUARTO
MOVIMENTO: Rio de Janeiro
O
quarto e último movimento de nossa homenagem é a sua identificação com a Cidade
Maravilhosa. Esse baiano mandingueiro com seu jeitão sedutor malandreado foi abraçado
de tal forma por esta cidade que fez surgir em sua vida um novo caso de amor.
Chegou na década de 60 e se encantou pela similaridade do jeito carioca de
sercom sua baianidade, encontrando aqui um território fértil para seus projetos.
Um Rio de puraseduçãoqueo fez encontrar novos e especiais amigos, e o motivou a
escolheresse lugar para construir um novo momento de sua história. Pitanga
participou e até hoje participa ativamente de tudo de fervilhante desta cidade
que o enfeitiçou e o fez descobrir novos amores.Esseé o Rio doMestre Cartola
que o levoupara conhecer a Estação Primeira de Mangueira que tingiu seu coração
de verde rosa. Rio da Cruz de Malta e do futebol.ORio do samba e do Carnaval.O Rio
das favelas e das lutas comunitárias.O Rio da Bené e da política. O Rioque o fez
“Primeiro Damo”. O Rio da militância e dos projetos sociais. O Rio da Camila e
do Rocco. Esse é o Rio que te abraça nesse momento tão especial e de mãos dadas
com a família da Unidos do Porto da Pedra do município de São Gonçalo.Vamos
celebrar, em plena Marquês de Sapucaí, no Carnaval, a sua história que completa
80 anos, sendo sessenta deles dedicadosàArte.
Antônio
Pitanga, você é nossa inspiração, um exemplo para um país que precisa de
brasileiros como você,que não foge à luta e sabe dizer não as dificuldades e ao
preconceito. Você é a encarnação viva de um sonho feliz doBrasil que
precisamos: miscigenado, livre e justo. E hoje, o Tigre de São Gonçalo irá
rugir mais forte, orgulhoso e feliz, fazendo de você o motivo de nosso Carnaval.
Antônio Pitanga, um negro em
movimento!!!
Jaime
Cezario
Carnavalesco
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